6 de abril de 2009

AMOR DE BALÃO



Quando eu era criança, adorava balões de gás. lembrei disso por acaso, passeando com um amiga pela orla da minha cidade. Observando aquelas crianças com os seus balões, recordei-me da sensação maravilhosa que eu tinha quando ganhava um. Ficava toda prosa, sorriso não cabia em meu rosto. Andava de lá pra cá com a ponta do dedo amarrada àquele pedacinho de linha que permitia esse "elo" com o objeto desejado. Esse fio impedia que o balão se afastasse de mim. Era o que possibilitava sua permanência no mesmo metro quadrado que eu, como se respirássemos o mesmo ar...

Qual o destino dos balões? estourar de repente ou esvaziar devagarinho até se transformar num pedaço de borracha triste, que em nada se assemelha ao formato anterior. Mas isso quase nunca acontecia, sempre por algum descuido meu, o balão se soltava do meu dedo e voava para longe, cada vez mais longe do meu alcance.

Tristeza em meu coração ao acompanhar aquele vôo. Sensação que o vento naquele momento não deveria existir. Desejava viver no vácuo só para tê-lo de volta. Via meu objeto amado indo embora e sentia um vazio por não poder fazer nada para impedir. Os adultos, prometiam outros balões, diziam que eu poderia escolher o que eu quisesse, mas aquele balão, o que estava preso à minhas mãos, esse eu não teria. E era por ele que meu rosto virava chuva em meu rosto, aquele cujo fio eu não consegui manter comigo, aquele que os risos e felicidade que me proporcionaram ainda ecoavam no meu coração.

Após virar gente grande, percebi que nossos amores vêm e vão e afastam-se do nosso alcance como os balões da minha infância. No início, agente caminha toda prosa com aquela pontinha de sonho amarrado na linha de esperança que está em nossas mãos. Sorvete de chocolate, bolo de cenoura, cheiro de chuva, as sensações mais gostosas da vida presas em nosso fio, é assim que nos sentimos. Uma mão segurando a nossa estrada a fora. De repente, começa a ventar o vento que tira os sonhos do lugar, que faz o fio da linha se desprender do dedo, que recolhe a ponte e deixa o abismo. Um vento soprado pela desatenção, o descuido letal para o amor. O amor virou balão.

Percebe-se que o amor anoiteceu e o coração fica angustiado e aflito por tentar se esticar tanto para alcançar o fio da linha e amarrá-lo novamente na pontinha dos sonhos. Mas no fundo, sabemos que não vamos alcançá-lo, pois ele voa alto demais da possibilidade de alcance. Porque aquele amor, exatamente aquele, ainda é tudo o que ele mais deseja. Porque não sabe onde colocará as mãos, o encanto, o olhar, depois daquele instante. Porque não lhe importa que outro amor venha ao seu encontro. É aquele, aquele lá, que ainda o faz bater.

Nó apertado na garganta, chega finalmente o momento em que desejamos apenas o sossego que costuma vir com a aceitação. Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns prima linda! Muito lindo esse texto! Você consegue transformar em palavras nossos mais ocultos sentimentos. Eita orgulho danaaado! Beijooos